ENTREMEIOS
ENTRE A CIDADE QUE É E A QUE PARECE SER
O crescimento das cidades médias está relacionado à difusão do agronegócio, à difusão do comércio e serviços e à desconcentração espacial da produção industrial incentivada pelo governo militar na década de 1970, período em que amplos investimentos foram feitos em cidades localizadas estrategicamente para o crescimento da economia.
Percebe-se então, com o desenvolvimento de tais cidades, um claro exemplo de que a história não somente acontece, mas também pode ser dirigida e até fabricada. Segundo Sposito (2007), as cidades médias são aquelas que desempenham papeis de intermediação em suas redes urbanas. Assim, foram construídos, nesses centros urbanos, verdadeiros polos regionais capazes de atrair uma população em busca de uma boa qualidade de vida.
É nesse espaço socialmente produzido que se fabricou um ideal de cidade. Livre dos congestionamentos e inseguranças das metrópoles, e sendo mais atrativa do que as cidades pequenas, as cidades médias tornaram-se o verdadeiro El Dourado no planejamento urbano e regional. Ali, emprego, habitação e lazer parecem coexistir da forma mais harmoniosa possível, atraindo olhares de quem busca uma alta qualidade de vida.
No entanto, até que ponto é verídica essa representação que se tem criado acerca de tais cidades? Até quando tais cidades podem verdadeiramente suprir as expectativas que se criam a seu respeito? O otimismo, engrandecido pela mídia acerca desses centros urbanos, parece escamotear as manifestações de desigualdades e segregação socioespaciais existentes. E na distribuição das vantagens e desvantagens do espaço produzido, a primeira é moldada para se destacar.
Entretanto, a noção de cidade ideal para alguns, certamente não é para todos. Na tentativa de coexistir o que há de melhor nas grandes e pequenas cidades, o que temos como resultado é capaz de suprir as necessidades de todos? Entre dois lados, as cidades médias brasileiras se encontram em um meio difícil de se decifrar. Sendo assim, em uma cidade em meio a tantas dualidades, é possível dizer que ela realmente é o que parece ser?
- NEM TUDO QUE RELUZ É OURO
A ideia que se cria a respeito das cidades medias tem se acobertado de projeções que almejam uma qualidade de vida e oportunidades que muitas vezes não condizem com a realidade que se vivencia. A ideia aqui é a de desmitificar as expectativas geradas a seu respeito. Afinal, nem tudo é o que parece ser.
- DIZ QUE DIZ
Nas discussões geradas sobre esse eixo propomos compreender melhor o papel das cidades médias como intermediadoras, comparando algumas das principais cidades que realizam esse papel. Esse é um espaço de trocas de conhecimentos e diferentes olhares em busca de entender as diversas situações que existem sobre essa temática.
- QUANDO É FÉ
Após as abordagens já realizadas, a ideia agora é vivenciar de fato como funciona a cidade média. Procuraremos entender as diversas vertentes, ações culturais e demais organizações, capazes de formular a identidade de uma cidade. Sabe-se da necessidade de uma continuidade - com propósito de mudanças - sem se desmembrar da tradição e consequentemente sem a perda de sua identidade e memória. Propõe-se, portanto, aqui discutir a cidade que se constrói no tempo e que, infelizmente, muitas vezes se perde durante sua trajetória.
PROBLEMÁTICA
Nesse espaço que abrange as cidades médias brasileiras, destaca-se Anápolis. Localizado em ponto estratégico, na conexão do eixo Goiânia-Brasília, o município anapolino teve destaque na materialização dos ideais modernos na região central do país, inicialmente por meio da ligação ferroviária, e posteriormente, rodoviária. Nascida da fé do homem, assim como tantas outras cidades, teve seu crescimento ligado à presença de diversos fatores políticos e econômicos, transformando-se de arraial para a conhecida “Manchester Goiana”.
Anápolis tornou-se um apoio à edificação de duas capitais: Goiânia, a bandeira da modernização de Goiás, e Brasília, a capital modernista de Juscelino Kubistchek. Pode-se afirmar, portanto, que devido a sua logística, Anápolis funcionou como uma ponte para a chegada da bagagem moderna em meio a terras tupiniquins. O fato é que, tanto Goiânia quanto Brasília constituíram um novo caminho na região central do país. Entretanto, no meio do caminho havia Anápolis. Um entremeio entre a modernidade e o sertão de Goiás.
Assim, a realização do SeNEMAU 2017 em Anápolis, deve-se a configuração da cidade e sua localização estratégica. Anápolis pode ser considerada uma das cidades médias que cresceu a partir da década de 1970, com a economia focada na agroindústria, que ganha novos contornos, mais recentemente, a partir da instalação do polo industrial farmacêutico e da implantação de uma base logística aero-rodo-ferroviária. Além disso, está no “meio” do caminho entre duas capitais, a capital do estado (Goiânia) e a capital do país (Brasília). Entretanto, consegue se destacar, tendo relevância no cenário goiano e nacional.
Devido a esse desenvolvimento, Anápolis é considerada, entre outras tantas cidades médias, uma das melhores cidades pra se viver do país. No entanto, será que isso realmente é refletido na vida da população? Como sabemos que todo esse progresso anunciado não é o precurssor do aumento da desigualdade social? Qual é a cara dessa cidade que passou por tantas tranformações?
Dentre as inúmeras sobreposições de tempos, gerações e construções, que deixaram sua marca na formação da memória do anapolino, como definir a identidade dessa cidade? Saber compatibilizar a preservação e sua memória com a continuidade histórica, torna-se agora um dos desafios da cidade que cresce e não pode deixar de ser o que realmente é.
PORQUE ANÁPOLIS?